Enquanto ainda deixo em banho-maria histórias da minha vida filatélica a serem contadas - como anunciado no último post - venho atualizar o blog para noticiar o início de um projeto cultural sob minha responsabilidade, que será executado na UTFPR em Londrina. O projeto é denominado "A filatelia como janela para o conhecimento: Desvendando mundo em selos postais". O projeto foi uma iniciativa minha, que vai contar com a ajuda de uma estudante do curso de Engenharia de Materiais, onde leciono. Este projeto cultural, em modo que podemos dizer "piloto", consistirá de quatro oficinas interativas, nesta primeira etapa a ser realizada dentro do ambiente universitário e dirigido apenas à comunidade acadêmica (alunos, professores e demais servidores) e tem como objetivo resgatar ou criar a consciência da importância do selo postal como material histórico, artístico e técnico, bem como entender a filatelia como a vemos hoje e como a víamos antigamente.
Muito é sabido que, desde a popularização da internet, isto é, há mais de 20 anos, cartas deixaram de ser um elemento essencial de comunicação em muitos casos. Pois é, em 2025 temos uma grande parcela da população jovem que, independente da sua origem ou parcela social, nunca enviou uma carta pessoal pelo correio, nunca subscreveu um envelope, muito menos usou um selo. Diante disso, este projeto tem a missão de mostrar a revolução nas comunicações que foi trazida pela invenção do selo postal e a reestruturação dos correios na época de Rowland Hill, bem como trazer um espaço "analógico" onde as pessoas podem descobrir a beleza que é explorar um pouco as pequenas estampas e tudo o que elas têm a oferecer.
O projeto consistirá de oficinas que serão realizadas em quatro dias diferentes, com quatro temas principais:
- Oficina 1: Selos como documentos da história
Neste módulo, a ideia é realizar uma palestra introdutória apresentando a filatelia e os seus principais aspectos aos participantes. Além das palestras, criar-se-á um espaço interativo, com acumulações de selos para que cada um possa explorar da forma que achar melhor. Que possa garimpar, separar, montar uma microcoleção daqueles que acha mais interessante, e ter o primeiro contato com os papéis e as pinças. Que possam usar as lupas para aumentar os detalhes, ou até mesmo a câmera do celular; que possam desvendar os países, os temas, os personagens e as figuras de cada selo que escolher. Este primeiro contato, sem muito "critério", vejo fundamental para atrair a atenção para o personagem principal, que é o selo. Além disso, será feita uma mini-exposição com folhas organizadas e peças-chave, como os olhos-de-boi, o Penny Black e outras emissões emblemáticas, antigas e modernas. Ainda, os participantes poderão verificar como uma coleção pode ser organizada em classificadores, em álbuns definitivos e também folhear exemplos de catálogos como RHM, Yvert e Michel, entendendo um pouco como os selos são organizados, classificados e valorizados.
- Oficina 2: A arte de colecionar
Neste módulo, será feita uma orientação mais técnica a respeito de como colecionar. Dar-se-á mais atenção aos diversos suprimentos filatélicos e se verificará a sua finalidade. Serão usados selos para determinar denteação, filigrana e outros elementos. Será feito um experimento para mostrar como se retira o selo do envelope sem machucá-lo, e que tipos de outros acessórios servem para estudo e conservação dos selos postais. Serão feitos exemplos de classificação dos selos usando os catálogos e as plataformas como Colnect e StampWorld, além dos catálogos eletrônicos brasileiros. Além disso, é importante uma explanação e exemplos de como funciona o intercâmbio e o comércio filatélico na internet e da forma antiga (clubes, associações, trocas de cartas). Deste modo, os participantes poderão entender um pouco todo o operacional de como desenvolver uma coleção desde o início, conhecendo detalhes que poderiam levar mais tempo para conhecer caso iniciassem sua caminhada sozinhos.
- Oficina 3: O selo como expressão estética
Neste módulo, será estudado o selo como obra-de-arte. Independente do tipo e da época da emissão, dar-se-á ênfase aos elementos artísticos da imagem do selo, mas também das técnicas de impressão e do conceito. Serão verificados os elementos que compõem o selo e também ajudam a identificá-lo. De modo geral, permeando a história e o trabalho de desenhistas, artistas e gravadores, será feita uma análise iconográfica e estética dos selos. Será feito o devido tributo àqueles artistas que possibilitam chegar às nossas mãos uma arte preciosa nos pequenos pedaços de papel. Como atividade prática, será proposto aos participantes que concebam um selo postal, inspirados nos selos que serão analisados com profundidade. Caberá a cada participante decidir o que é preciso conter de informação no seu selo, e o que, como artista, gostaria que nele figurasse. O material produzido neste oficina fará parte de uma exposição física/virtual a ser montada como legado do projeto.
- Oficina 4: Cartas e conexões
Neste módulo, todo mundo terá ao menos uma experiência inicial de escrever uma carta manuscrita, subscrever o envelope e selá-la. Algo tão singelo e comum em gerações passadas, mas que entre os jovens é uma grande novidade, em tempo de e-mail, redes sociais e WhatsApp. A ideia é que cada participante possa escolher uma pessoa querida para lhe escrever uma mensagem de próprio punho, que será envelopada e postada. Para isto, serão disponibilizados selos atuais de 1º porte, bem como será feita uma análise de como funciona o sistema de portes e a logística dos correios, destacando sua função social e tão capilarizada que tem de alcançar rincões tão distantes com a simples aplicação de um selo. Para os mais velhos, um hábito antigo que retorna, um pouco de nostalgia. Para os mais jovens, a rica (e talvez até nova) experiência de se conectar com as pessoas de forma analógica, emocional e tão valiosa. Sentirão o selo cumprir sua função precípua quando tiverem notícia do recebimento daquela carta enviada. Talvez isso possa ajudar a restaurar um pouco esse hábito tão valioso e que vem se perdendo.
Mais para a frente, virei contar como foi; e continuaremos fomentando a filatelia. Por mais que sejam poucas as pessoas atingidas inicialmente, a mensagem se espalha, o projeto se amplia e passa a atender outros membros da comunidade. É uma pequena contribuição que, como filatelista, gostaria de deixar para minha sede.
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